Com causas ainda
misteriosas para a medicina, a fibromialgia atinge cerca de 3% dos
brasileiros
Imagem: iStock
Cristiane Bomfim
Agência Einstein
11/05/2020 16h03
Por quatro anos, a
analista administrativa Diomara Cantesani, de 55 anos, sofreu com
dores físicas que médicos não conseguiam diagnosticar. No começo,
doíam as articulações dos membros superiores, especialmente as das
mãos. Com o tempo, elas ficaram mais intensas e alcançaram outras
partes do corpo, como as pernas e o quadril. Quando os analgésicos e
anti-inflamatórios comprados por conta nas farmácias já não
faziam mais efeito, as idas ao pronto-socorro passaram a ser rotina.
"A cada receita nova, o remédio era mais forte, mas ele não
tratava a causa porque os médicos não sabiam o que eu tinha",
lembra. O diagnóstico de fibromialgia veio quando ela completou 40
anos e a dor alcançara um nível insuportável. "Até meu couro
cabeludo doía. Quando eu falava, as pessoas não acreditavam",
lembra.
Segundo estimativas da
Sociedade Brasileira de Reumatologia, a fibromialgia atinge cerca de
3% dos brasileiros -- quase sete milhões de pessoas. Mistério para
medicina e motivo de discordância entre especialistas, as causas das
dores difusas pelo corpo que caracterizam a enfermidade ainda não
estão totalmente esclarecidas, o que dificulta seu diagnóstico e
seu tratamento. O que já se sabe é que a fibromialgia se manifesta
com dores crônicas no corpo e sem motivo aparente. Elas dores podem
estar associadas a outros sintomas, especialmente a fadiga,
alterações no sono e distúrbios de humor, entre eles ansiedade e
depressão.
"Não há exames
clínicos ou de imagem que identifiquem a doença", afirma o
reumatologista Ari Stiel Radu Halpern, do Hospital Israelita Albert
Einstein, de São Paulo. "Uma de suas características é a
inexistência de inflamações ou infecções nos músculos e
articulações" explica.
A medicina também não
consegue explicar ainda porque a enfermidade é mais frequente em
mulheres, que representam nove a cada dez diagnósticos. Além disso,
os sintomas podem ser diferentes de pessoa para pessoa. "Quando
fazemos estudos observacionais não conseguimos comprovar a relação
entre causa e efeito. Se soubéssemos a causa, a fibromialgia seria
uma doença e não uma síndrome e os caminhos para tratamento seriam
mais claros", completa Halpern.
Outros sintomas que
podem estar associados são a sensibilização do sistema nervoso
central e uma menor densidade de fibras nervosas na epiderme. O
primeiro é uma alteração neuroquímica que produz em maior
quantidade substâncias quem amplificam a dor e em menor as que
inibem a sensação. Já a segunda, recém descoberta por
pesquisadores americanos, está relacionada à redução de fibras
nervosas na epiderme (camada mais superior da pele), o que pode
tornar dolorido um simples toque. "Mas somente cerca de 20% dos
pacientes fibromiálgicos têm essa condição", diz o
reumatologista.
Diagnóstico
Por estes motivos, o
diagnóstico da fibromialgia é clínico e eliminatório. O caminho
para descoberta e tratamento às vezes é longo. Isso porque
inicialmente os pacientes querem se livrar da dor e acabam recorrendo
à automedicação com uso de analgésicos e anti-inflamatórios.
Como as dores não cessam e até pioram, as consultas médicas com
ortopedistas, reumatologistas ou médicos especializados em dor
passam a ser consideradas.
"O que fazemos é
descartar, por meio de exames, todas as possíveis doenças que podem
causar essas dores como as autoimunes, as inflamatórias e o
hipotireoidismo. Nem sempre a resposta é rápida", explica o
anestesiologista George Miguel Góes Freire, coordenador da Equipe de
Controle de Dor do Einstein.
Atualmente, é
necessário a constatação de dor nos quatro quadrantes do corpo --
partes superior e inferior e lados direito e esquerdo - por pelo
menos três meses (o que caracterizam dores crônicas) e a associação
com outros sintomas, especialmente ansiedade, distúrbios no sono,
fadiga e depressão. Médicos psiquiatras e psicólogos ajudam não
só no diagnóstico final como no tratamento da fibromialgia. "Nem
sempre está associada aos quadros psiquiátricos, mas acreditamos
que a manifestação da síndrome também pode variar de acordo com a
resposta emocional dos pacientes", explica o psicólogo Thiago
Amaro, do Einstein.
Tratamento
No tratamento da
fibromialgia, o mais importante é a parte não medicamentosa. "Um
dos poucos consensos que temos é que a prática de atividade física
com regularidade é fundamental para reduzir as dores", explica
o reumatologista Halpern. Movimentar o corpo ajuda a evitar
contraturas musculares, que podem ocorrer em pacientes com a
síndrome. As contrações musculares ocorrem quando o músculo se
contrai de forma incorreta e não consegue voltar ao seu estado
normal no momento de relaxamento. "Este tipo de enrijecimento
não é mostrado laboratorialmente, mas com exames de apalpação nas
áreas doloridas. Tem que fazer o músculo se movimentar",
completa George Miguel Góes Freire, especialista em dor da
instituição.
Diomara Cantesani conta
que sempre menosprezou a prática de exercícios em seu tratamento.
Foi somente há um ano que, depois de uma das mais fortes crises que
teve, que iniciou uma rotina de exercícios de alongamento ou
qualquer outro que lhe traga bem-estar. "Quando me movimento,
sofro menos. Mas está difícil manter a rotina de exercícios".
Higiene do sono e
psicoterapia também são partes importantes no tratamento. "A
qualidade ruim do sono está relacionada à ansiedade, ao estresse e
à fadiga, sintomas que podem estar associados à fibromialgia",
explica o psicólogo Thiago Amaro. "Estudos mostram que não
existem dor física que não tenha aspecto emocional. Por isso é
importante esse tratamento multidisciplinar", afirma o
reumatologista Ari Stiel Radu Halpern.
As medicações são
normalmente prescritas para tratamento específico da dor e não de
doenças psiquiátricas. " "Antidepressivos e
anticonvulsivante, por exemplo, têm papel importante no controle da
dor porque regulam neurotransmissores envolvidos no processamento da
sensação", diz o reumatologista. Neurotransmissores são
substâncias que fazem a comunicação entre os neurônios. "Mas
o foco do tratamento é a dor e não sintomas psiquiátricos",
explica Halpern.
O tratamento
psiquiátrico é reservado aos pacientes com distúrbios mais graves,
como depressões mais fortes e psicoses depressivas, mas como tudo em
torno da fibromialgia, não é uma regra.
texto original
Por quatro anos, a
analista administrativa Diomara Cantesani, de 55 anos, sofreu com dores
físicas que médicos não conseguiam diagnosticar. No começo, doíam as
articulações dos membros superiores, especialmente as das mãos. Com o
tempo, elas ficaram mais intensas e alcançaram outras partes do corpo,
como as pernas e o quadril. Quando os analgésicos e anti-inflamatórios
comprados por conta nas farmácias já não faziam mais efeito, as idas ao
pronto-socorro passaram a ser rotina. "A cada receita nova, o remédio
era mais forte, mas ele não tratava a causa porque os médicos não sabiam
o que eu tinha", lembra. O diagnóstico de fibromialgia veio quando ela
completou 40 anos e a dor alcanç... - Veja mais em
https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2020/05/11/entenda-o-que-e-a-fibromialgia-a-sindrome-das-dores-inexplicaveis.htm?cmpid=copiaecola
Entenda o que é a
fibromialgia, a 'síndrome das dores inexplicáveis'
Com causas ainda misteriosas para a medicina, a fibromialgia atinge
cerca de 3% dos brasileiros - iStock
Com causas ainda misteriosas para a medicina, a fibromialgia atinge
cerca de 3% dos brasileiros Imagem: iStock
Cristiane Bomfim
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cerca de 3% dos brasileiros Imagem: iStock
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