Atividades aeróbicas e de fortalecimento muscular amenizam síndrome, que causa dor crônica, fadiga e pode levar à depressão. Médico reumatologista explica diagnóstico e pontos dolorosos
Por Gabriela Bittencourt, para o EU Atleta — Rio de Janeiro
O que se sabe é que as pessoas que sofrem com a fibromialgia apresentam uma alteração nos neurotransmissores responsáveis pela sensação de dor, comprometendo essa percepção. Contudo, independentemente do quadro, os exercícios aeróbicos e de fortalecimento muscular permitirão melhorar significativamente a qualidade de vida desses indivíduos.
Médico assistente coordenador do ambulatório de Fibromialgia do serviço de Reumatologia do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), Diogo Souza Domiciano explica que a fibromialgia é marcada por uma não regulação dos neurotransmissores que atuam no controle da dor, fadiga e disposição, entre outras condições. Por causa desse desequilíbrio, os pacientes com a síndrome apresentam dores fortes e constantes que não passariam de um incômodo leve para a maioria das pessoas. Normalmente, há 18 pontos do corpo em que as dores são mais agudas, e um paciente muitas vezes sente uma maior sensibilidade em pelo menos 11 desses locais. Mas nem sempre é assim. Há pessoas com maior tolerância à dor, mas que sofrem com outros sintomas, especialmente com fadiga e com uma dor difusa, que não necessariamente se concentra em pontos específicos.
Sintomas
- Dor generalizada e difusa pelo corpo, afetando pontos como cabeça, mandíbula, ombro, tórax, dorso, lombar, quadril, braço, abdômen, antebraço, coxa e perna;
- Fadiga;
- Distúrbios do sono;
- Transtornos do humor, como depressão e ansiedade;
- Problemas de memória e concentração.
Causas e gatilhos da fibromialgia
- Predisposição genética. Pessoas com histórico na família têm mais chance de desenvolver a síndrome em algum momento da vida;
- Alterações hormonais. Muito comum entre mulheres a partir da pré-menopausa, a fibromialgia pode ser influenciada pela redução do estrogênio;
- Doenças autoimunes e outras condições que causem dores crônicas, como endometriose, síndrome do intestino irritável e problemas no sistema nervoso central;
- Transtornos como depressão, ansiedade e bipolaridade. Quando a pessoa apresenta esses distúrbios também pode ter mais chance de desenvolver a fibromialgia. O indivíduo fica hipersensível e a dor pode ser perpetuada;
- Traumas físicos e emocionais;
- Dores mal resolvidas ou fatores periféricos que causam dor. É o caso de pacientes que desenvolveram uma tendinite ou uma contratura muscular nas costas ou pescoço, por exemplo, e indivíduos que convivem com artrose, entre outros problemas. Quando essa dor localizada não é tratada adequadamente, pode haver uma generalização e piorar ou instaurar um quadro de fibromialgia. É preciso resolver o problema no ponto afetado para evitar que a dor perpetue. Por isso, pacientes que já tiveram o diagnóstico de fibromialgia ou têm casos na família precisam tratar adequadamente todos os problemas que podem gerar dor para evitar que agravem a síndrome.
Pilares do tratamento
- Educação sobre a fibromialgia. Primeiro, o
- paciente precisa conhecer o que é a doença e que se trata de um problema debilitante mas que não oferece risco à sua vida ou mesmo de deformidades;
- Exercícios físicos aeróbicos e de fortalecimento muscular combinados;
- Multidisciplinaridade. O enfrentamento requer uma abordagem ampla, que vai além dos medicamentos e pode envolver outros especialistas, além do reumatologista. Esse médico, além de prescrever medicamentos que atuem na dor e no sono e indicar os exercícios físicos, pode recomendar o acompanhamento psicoterapeuta. Em muitos casos, esse suporte é determinante para ajudar o paciente a mudar o seu comportamento diante da doença, encarando-a de forma proativa e melhorando sua adesão ao tratamento. Noutras situações, pode ser indicado consultar um especialista em sono, para tratar insônia e apneia, que interferem em fatores da dor;
- Se necessário, uso de medicamentos - sempre prescritos pelo médico - como analgésicos, relaxantes musculares e antidepressivos.
Outros aliados contra a fibromialgia
- Acupuntura;
- Atividades como hidroterapia e tai chi chuan;
- Dormir bem. Embora não interfira diretamente na fibromialgia, um sono não reparador pode piorar a fadiga e a dor. Por isso, é fundamental realizar uma boa higiene do sono antes de dormir. Práticas como meditação também são indicadas;
- Alimentação balanceada. Não há estudos que indiquem uma dieta específica para quem sofre com a fibromialgia. No entanto, uma alimentação balanceada e saudável é fundamental para qualquer indivíduo e também para aqueles que convivem com essa síndrome. Se a pessoa apresentar sobrepeso ou obesidade, por exemplo, haverá uma sobrecarga em suas articulações, piorando as dores e a fibromialgia.
Importância dos exercícios físicos
Diogo Souza Domiciano reforça que a prática de exercícios físicos é parte importante do enfrentamento dessa síndrome. O tratamento requer o uso de medicamentos, desde analgésicos até antidepressivos, dependendo do caso. No entanto, o paciente também precisa aderir à abordagem não medicamentosa, especialmente os exercícios físicos, para manter as dores sob controle. Como as atividades aeróbicas liberam substâncias de bem-estar, prazer e até analgesia, podem até ajudar a diminuir as chances de dores. Isso não significa que atletas ou pessoas que pratiquem exercícios físicos regularmente não sofrerão com essa síndrome. Há indivíduos fisicamente ativos que convivem com a fibromialgia. Afinal, há muitos fatores que influenciam a sua incidência. Contudo, essa prática tem impacto positivo importante no quadro do paciente, diminuindo a incidência e a força dos sintomas, como dor e fadiga.
– Não existe estudo que mostre que as atividades físicas previnem a fibromialgia. Mas a gente vê que muitas pessoas que têm os fatores causadores e histórico na família tendem a ser mais sedentárias. A pessoa pode fazer exercícios físicos, mas há também a questão genética, do humor e do sono. Porém, em geral, quem faz atividades físicas regularmente pode ter uma chance melhor. Essa pessoa ativa pode ter fibromialgia, mas com o benefício que a atividade física proporciona sobre a dor, ela sai na frente nesse sentido – constata o médico.
De acordo com o reumatologista, não há contraindicação de exercícios quando o paciente é diagnosticado com fibromialgia. É preciso considerar se ele apresenta alguma outra condição associada que imponha restrições a determinadas modalidades, como é o caso de problemas como artrose e osteoporose. Porém, para a fibromialgia, propriamente, não há exercícios que sejam contraindicados. Da mesma maneira, Domiciano comenta que também não existe uma modalidade que seja mais recomendada nesses casos.
– Qualquer atividade pode ser indicada. Mas o que funciona é combinar exercícios aeróbicos e de fortalecimento muscular. As modalidades aeróbicas, principalmente, liberam endorfina e controlam o sistema de dor do organismo. Por isso, têm efeito analgésico e de bem-estar maior do que outros exercícios. Mas tem que considerar o gosto da pessoa. Ela pode correr, nadar ou fazer hidroginástica, o que preferir – completa Domiciano.
Por causa da fibromialgia, portanto, não haverá restrição para a prática de exercícios físicos. Entretanto, muitas vezes o paciente, em função da dor crônica, desanima para realizá-los. Domiciano esclarece que, inicialmente, um indivíduo sedentário diagnosticado com a síndrome observará que as dores continuarão presentes quando começar a fazer exercícios. Contudo, passado um período de cerca de seis a oito semanas, esse quadro muda.
– Isso é algo que a gente sempre explica ao paciente. Durante seis a oito semanas, ele pode ter até uma piora da dor porque não está acostumado com o exercício. É por isso que precisa começar bem leve e ir progredindo. Se o paciente mantiver a regularidade, passadas essas semanas a dor diminuirá. Nesse início, é mais difícil, mas ele precisa persistir e contar com o apoio de um educador físico e até de fisioterapia. Esse suporte ajudará a aumentar a sua adesão aos exercícios. Quando passa essa fase inicial e o paciente vê que as atividades melhoram a dor, sua adesão continua – observa o médico, acrescentando que até o sono será positivamente afetado, uma vez que os exercícios liberam substâncias que influenciam na sua qualidade.
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