Doses altas do suplemento podem causar o aumento no nível de cálcio e outras consequências, e uso deve ser prescrito somente por profissional habilitado
25/09/2020 - 19h48min Atualizada em 26/09/2020 - 18h30min
Especialistas alertam: suplemento de vitamina D deve ser ingerido somente a partir da indicação de médico ou profissional de nutrição, com acompanhamento regular pelo menos a cada seis meses. A automedicação tem aumentado na pandemia de coronavírus, quando muitas pessoas começaram a ingerir a vitamina D sem passar por avaliação profissional, na tentativa de suprir a falta de exposição ao sol durante o período de distanciamento social.
Nos últimos dois meses, pelo menos cinco casos de intoxicação por vitamina D foram registrados no setor de endocrinologia do Hospital Moinhos de Vento, por diferentes motivos. Em pelo menos duas situações, o uso do suplemento ocorreu sem indicação médica.
— Uma vez que a vitamina D sobe no sangue, ela fica armazenada no tecido adiposo por meses. Dependendo da gravidade da hipercalcemia (aumento do cálcio no sangue), pode causar problemas no rim, levando, inclusive, à necessidade de diálise para controlá-la — explica o chefe de Serviço de Endocrinologia e Nutrologia do Hospital Moinhos de Vento, Guilherme Rollin.
Rollin esclarece que uma pessoa intoxicada por vitamina D poder ficar com altos níveis da vitamina e, consequentemente, de cálcio no sangue por mais de três meses.
No Hospital Mãe de Deus, segundo a endocrinologista do corpo clínico da instituição Elisa Sfoggia Romagna, houve pelo menos um caso de internação por intoxicação, há um mês, de uma senhora de mais de 60 anos.
Chefe do serviço de Endocrinologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Rogério Friedman ressalta que nos últimos meses percebeu um aumento na frequência de casos por intoxicação por vitamina D entre pacientes dele e de colegas da área em outras instituições.
— Ela é vendida como suplemento alimentar, não como medicamento, mas não aconselhamos que as pessoas saiam tomando qualquer dose de vitamina D sem discutir antes com um médico. Ela é segura em doses habituais, para prevenir osteoporose, por exemplo. Mas passa a ser tóxica e causa danos se a pessoa exagerar. Para cada indivíduo, há um nível de recomendação a ser seguido — alerta.
Conforme
o especialista, doses altas da vitamina podem causar o aumento do nível
de cálcio e, consequentemente, ocorrências como cálculo renal,
insuficiência renal aguda, manifestações cerebrais (desorientação),
alterações no ritmo cardíaco e desidratação.
Anvisa publicou marco normativo de suplementos alimentares
Em 2018, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou o marco normativo de suplementos alimentares, composto por cinco regulamentos, com destaque à Resolução-RDC 243/2018, que estabelece os requisitos gerais para os suplementos alimentares, e a Instrução Normativa 28/2018, que indica a lista de constituintes, de limites de uso, de alegações e de rotulagem complementar dos suplementos alimentares.
Segundo a Anvisa, a dispensa da obrigatoriedade de registro dos suplementos alimentares converge com a conduta de autoridades sanitárias estrangeiras de referência nos Estados Unidos, na Europa, no Canadá, na Austrália e na Nova Zelândia, que focam o controle sanitário de alimentos na avaliação de segurança de ingredientes inovadores.
Assim, a regularização de suplementos alimentares de vitamina D no Brasil ocorre por meio de protocolo de comunicado de início da fabricação/importação junto ao órgão local de vigilância sanitária onde situa-se a empresa fabricante/importadora. A dispensa de registro, contudo, não isenta a empresa de cumprir integralmente os requisitos estabelecidos nos regulamentos vigentes, sendo a mesma responsável pela garantia da qualidade do produto que oferta aos consumidores.
No caso da vitamina D, o limite máximo estabelecido no anexo IV da IN 28/2018 é de 50mcg para adultos maiores de 19 anos. De acordo com a Anvisa, esse limite foi estabelecido considerando a necessidade de garantir um aporte significativo da vitamina, conforme as recomendações nutricionais disponíveis para os diferentes grupos populacionais, e a necessidade de reduzir o risco à saúde do consumidor.
A metodologia, ressalta a Anvisa, está alinhada com as recomendações do Codex Alimentarius, organismo da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e da Organização Mundial da Saúde (OMS), responsável pela harmonização internacional de regras para alimentos. Para isso, foram utilizados os valores de referência de ingestão recomendada de nutrientes e de níveis de ingestão máxima tolerada publicados pela FAO/OMS, pelo Institute of Medicine da US National Academy of Sciences (IOM) e pela European Food Safety Authority (EFSA).
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