O doutor Dante Senra (Doutor em Emergências Clinicas pela FMUSP (Faculdade de Medicina da USP) e médico especialista em cardiologia, clínica médica e terapia intensiva. Também é autor do livro Terapia Intensiva Fundamentos e Prática, ganhador do Prêmio Jabuti.), em sua coluna no site UOL descreve com muita empatia a luta do Fibromiálgico. È importante conhecermos e divulgarmos opiniões que corroborem e endossem pelo o que passamos. Por este motivo, a Abrafibro Assoc Bras Dos Fibromiálgicos compartilha em seu site este texto tão respeitoso sobre a nossa vivência.
Então, leiam e compartilhem. Afinal, o conhecimento sempre será a melhor arma de enfrentamento à Fibromialgia.
A desafiadora tarefa de conviver com fibromialgia
Peregrinar por vários consultórios médicos
em busca de alívio para o sofrimento tem sido a vida das pessoas acometidas por
esse mal que a medicina desconhece a causa.
Exames que nada demonstram ainda fazem os
indivíduos com fibromialgia serem rotulados como "exagerados e muitas
vezes preguiçosos ou depressivos". Embora possa estar ligada à ansiedade e
depressão, não se sabe o que veio primeiro.
Trata-se de uma síndrome complexa e muitas
vezes mal compreendida por quem convive com ela e até pela medicina.
É mais comum em mulheres em idade fértil
(mas pode acometer qualquer gênero ou idade) e estima-se que acometa de 2 a 10%
da população mundial.
Famosos como Lady Gaga e Morgan Freeman,
acometidos pela doença, já deram diversos depoimentos contundentes sobre seu
sofrimento.
No documentário "Five Foot Two",
de 2017, Gaga fala sobre sua dificuldade em encontrar tratamento e técnicas
para controlar os sintomas. No mesmo ano, a celebridade cancelou sua
participação no Rock in Rio, supostamente por conta das fortes dores causadas
pela fibromialgia.
Já
Freeman, em 2017, em declaração polemica, fala sobre legalização de drogas para
controle da doença.
Fato é que se trata de uma doença cruel, de
diagnóstico apenas clínico e, portanto, o diagnóstico depende da experiência do
médico consultado. Com sintomas variados, pode acometer pessoas da mesma
família e, portanto, pode haver, sim, um componente genético em sua gênese.
Sabe-se que o cérebro (e talvez os
receptores cutâneos) interpreta os estímulos recebidos (um simples toque no
corpo, como um abraço, por exemplo) de maneira alterada, aumentando a sensibilidade
destes, causando dor e desconforto. O que não se sabe é por quê. Aí se
desencadeia o quadro.
Quais são os sintomas?
O sintoma que predomina é a dor, que pode
ser muscular, em articulações ou tendões e vem geralmente acompanhada de fadiga
extrema (o indivíduo frequentemente acorda cansado), quadro que pode durar
meses.
Esse quadro também pode vir acompanhado de
perturbações no sono (em quase 90% das vezes), tais como insônia e apneia
(noites mal dormidas podem piorar o quadro) e costumam se intensificar com o
estresse e com temperaturas mais baixas.
O defeito típico do sono é se tornar
superficial e/ou interrompido e, assim, frases como "acordo mais cansado
do que deitei" e "parece que fui atropelado por um caminhão" são
muito frequentes no consultório. Outro incômodo que costuma aparecer à noite é
a chamada síndrome das pernas inquietas, na qual há necessidade de esticá-las
ou mexe-las o tempo todo para aliviar o desconforto.
Dores de cabeça e problemas cognitivos como
alterações da memória e dificuldade em se concentrar são também queixas
bastante frequentes. Além de dormências e formigamento nas mãos e pés e até
sintomas cardiológicos como palpitações, que podem estar presentes.
Isso sem falar dos distúrbios
gastrointestinais como cólicas e até diarreias frequentes (síndrome do
intestino irritável).
Como Tratar?
A aceitação da doença pelo próprio paciente
e por quem convive com ele se tornam importantes desafios no dia a dia. Como
não existe um padrão clássico de doença, também não existe um padrão
referendado e indicado de tratamento medicamentoso para todos.
Não, a doença não é um transtorno de ordem
psicológica, embora distúrbios emocionais se tornem quase sempre presentes pela
difícil tarefa de conviver com ela, sem perspectiva de cura e com um grau
exacerbado de sofrimento.
Mas embora nem todos os pacientes com
fibromialgia apresentem depressão, ela hoje é considerada um fator agravante
dos sintomas e precisa ser tratada. Em geral, inicia-se o tratamento da
fibromialgia com antidepressivos.
Mas
é possível conseguir períodos prolongados de calmaria, mesmo nas manifestações
clínicas mais cruéis da doença, ou seja, a dor e a fadiga.
O alívio e controle da dor e a melhora da
qualidade de vida são os objetivos fundamentais. Para isso, a melhor estratégia
é a abordagem multidisciplinar sempre que possível, por médicos, psicólogos,
nutricionistas e profissionais de educação física (sem esquecer a participação
da família).
Esse grupo multidisciplinar, levando em
consideração as características pessoais de cada indivíduo, deverá complementar
o tratamento farmacológico (analgésicos, antidepressivos, relaxantes
musculares, fitoterápicos e até homeopatia) com os não farmacológicos, como
exercícios físicos, fisioterapia, massagens e técnicas de relaxamento (ioga e
mindfulness, uma técnica de meditação que prega a atenção plena), dieta e
acupuntura. Tais práticas (acupuntura, fitoterápicos, homeopatia), factíveis
com um pouco de paciência e perseverança, foram incorporadas recentemente ao
Sistema Único de Saúde (SUS) com a publicação da Política Nacional de Práticas
Integrativas e Complementares.
Quero aqui ressaltar a importância de
praticar exercícios físicos que tem sido considerada pelos reumatologistas (e
endossada pelos pacientes) como uma das intervenções mais efetivas no
tratamento da fibromialgia, sendo responsável por alivio considerável da dor e
da fadiga. Obviamente individualizado, progressivo e evitando-se o alto
impacto.
Grupos de apoio de indivíduos com a doença
e até aplicativos para celulares e tablets discutem estratégias para lidar com
as dores crônicas e fadiga, objetivando uma melhora na qualidade de vida.
Há inclusive um projeto de lei tramitando
no congresso para promover aos diagnosticados o direito à dispensa do
cumprimento de período de carência, para usufruir dos benefícios de
auxílio-doença e aposentadoria por invalidez.
É preciso falar muito sobre essa doença
invisível aos olhos de quem não a sente, para que haja compreensão e mudança de
comportamento da sociedade. Como dizia Shakespeare, "Todo mundo é capaz de
dominar uma dor, exceto quem a sente".
** Este
texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
O autor
Dante Senra
Doutor em Emergências Clinicas pela FMUSP (Faculdade de Medicina da USP)
e médico especialista em cardiologia, clínica médica e terapia intensiva.
Também é autor do livro Terapia Intensiva Fundamentos e Prática, ganhador do
Prêmio Jabuti.
Postagem original:
https://www.uol.com.br/vivabem/colunas/danta-senrra/2019/10/26/a-desafiadora-tarefa-de-conviver-com-a-fibromialgia.ht
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