Um neurologista português acredita ter descoberto a causa da
fibromialgia, síndrome crônica que provoca dores em diversos pontos do
corpo e um cansaço generalizado, mas que ainda não é reconhecida como
doença em Portugal. Convencido de que o problema pode residir no
deficiente funcionamento dos fusos musculares - estruturas minúsculas
localizadas no interior dos músculos -, Fernando Morgado procura agora
medicamentos específicos para o tratamento da enfermidade.Embora se
mostre cauteloso, até porque não está sequer na fase de ensaios
clínicos, o neurologista do Hospital de Santa Maria e presidente da
Associação Portuguesa de Doentes com Fibromialgia (APDF) admite ter
"expectativas de encontrar em breve" medicamentos alternativos ao atual
"arsenal" de fármacos que os fibromiálgicos são obrigados a tomar,
desde relaxantes musculares a analgésicos. "Temos fé" , comenta Fernando
Morgado, que no próximo sábado discorrerá sobre esta matéria num
encontro sobre doenças neuromusculares, num hotel em Lisboa/Portugal.
Caracterizada clinicamente por quatro grupos de sintomas (dores
musculares, fadiga, ansiedade e "stress", ciclos do sono alterados), a
fibromialgia continua a ser pouco conhecida entre nós e muitas vezes é
mesmo olhada com desconfiança, por não constituir uma evidência clínica -
todos os exames e análises dão resultados negativos, à exceção do
eletroencefalograma durante o sono. Basta ver que a própria Organização
Mundial de Saúde apenas catalogou a doença na década de 70, apesar de
esta ser conhecida desde o século XIX. E estudos epidemiológicos
recentemente feitos no Reino Unido apontam para uma incidência da ordem
dos 2 por cento na população, acrescenta o clínico.
Hoje, apesar de já
estarem estabelecidas as bases para um correto diagnóstico - que é
feito a partir da história clínica e da observação médica de pelo menos
11 de 18 pontos dolorosos, associados à fadiga, perturbações do sono e
alterações emocionais -, ainda há muitos médicos que não reconhecem a
patologia e continuam a encaminhar os doentes para psiquiatras e outro
tipo de especialistas.
"Gastam-se rios de dinheiro por causa do
desconhecimento clínico da situação", lamenta a vice-presidente da APDF,
Fernanda Margarida, defendendo que o diagnóstico "pode e deve ser feito
por qualquer clínico". O problema é que os fusos musculares não são
fáceis de estudar, dada a sua dimensão reduzida (medem entre três a sete
milímetros) e devido ao facto de estarem "perdidos no meio de milhares
de fibras musculares". Ao decorar, a sua localização varia muito de
pessoa para pessoa, o que torna quase impossível estudá-los "em vivo". É
justamente aqui que radica "o grande drama do diagnosticador", explica
Fernando Morgado, há mais de duas décadas empenhado na investigação
deste problema.
Estranhando o fato de haver tantos doentes que se
queixavam dos músculos e que, submetidos a exames e biópsias, não
apresentavam nada de anormal, o neurologista começou a interessar-se
pelos bizarros casos. "Fiquei perplexo e perguntei: mas o que é que têm
então", recorda. Até que, na tentativa de encontrar uma explicação para o fenômeno, foi percebendo que os sítios onde as dores se concentravam
eram exatamente aqueles onde estavam localizados os fusos musculares.
Como estão "hiper sensibilizadas", estas estruturas passam a responder
aos mais pequenos estímulos, pois determinados receptores não estão a
funcionar bem. Em síntese, é uma espécie de "depressão dos receptores
dos músculos", explica Fernando Morgado.
Trata-se de um problema
funcional, não de um defeito anatômico, esclarece o neurologista,
sublinhando que existem diversos fatores que contribuem para o
agravamento da doença, nomeadamente as mudanças de tempo, o "stress", o
fato de má qualidade do sono e o aumento da atividade física.
Fonte: http://www.publico.pt/ciencias/jornal/medico-portugues-acredita-ter-descoberto-causa-da-fibromialgia-175413
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