[ Revista Pesquisa Médica - Do laboratório à prática clínica ]
Inspeção termográfica
Técnica não invasiva, baseada na radiação infravermelha, permite diagnosticar quadros de dor crônica sem causa aparente, que caracterizam a síndrome fibromiálgica, a distrofia simpática, as neuropatias, as dores miofasciais, entre outras disfunções fisiológicas ou mutações genotípicas, como o câncer de mama
Por Cecília Proença
Todos os corpos com temperatura acima de -273ºC, marca do zero absoluto, emitem radiação infravermelha, com frequência eletromagnética de intensidade proporcional à temperatura. A possibilidade de capturar, em uma imagem digital de alta resolução, as diferentes temperaturas de cada tecido do organismo e, a partir delas, diagnosticar o que se passa é um dos avanços recentes da medicina minimamente invasiva (leia a partir da página 58 os procedimentos minimamente invasivos que já substituem alguns tipos de cirurgia cardíaca de céu aberto). O método diagnóstico denominado termografia não utiliza radiações ionizantes, é indolor e dispensa a utilização de contraste, podendo ser aplicado em crianças e gestantes. Na imagem capturada, cada pixel corresponde a uma temperatura em graus Celsius, na qual tecidos mais vascularizados, portanto mais quentes, irradiam colorações mais vibrantes, enquanto os mais frios, menos vascularizados, têm a coloração escurecida.
Uma vez que as alterações termogênicas, em diferentes tecidos, podem refletir
doenças, mutações genotípicas ou mudanças de funções fisiológicas, a inspeção termográfica é uma alternativa não destrutiva de observar padrões de informações sobre determinado processo. A possibilidade de utilização dessa técnica na
medicina, com finalidade diagnóstica, foi descrita pela primeira vez por Lloyd Williams et al., no jornal britânico Lancet, em 1961, originalmente para detecção do câncer de mama. De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Termologia e médico do Hospital Nove de Julho, Marcos Leal Brioschi, atualmente algumas capitais brasileiras já possuem e outras estão em fase de aquisição de um equipamento do gênero. Em São Paulo, a termografia está disponível no Hospital Nove de Julho e na Divisão de Medicina Física e de Reabilitação do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP). Não é um exame caro, seus custos são semelhantes aos de uma tomografia e os pacientes têm direito à cobertura pelos planos de saúde.
Condições musculares dolorosas
Dr. Brioschi explica que existem padrões específicos de imagem para cada distúrbio. Um exemplo é a síndrome fibromiálgica, na qual o paciente apresenta, na região do tronco, uma imagem aquecida "em manto" (distúrbio de termorregulação), as extremidades frias (vasoconstrição periférica devido ao estresse) e o aquecimento palpebral, um distúrbio do sono conhecido como "olhos de coruja", que não são observados em uma pessoa normal. As análises de imagem são feitas com o auxílio de uma escala colorida, quantitativa, disposta ao lado da cena capturada para auxiliar a interpretação visual. O médico enfatiza que, como todo exame, a termografia deve ser correlacionada à avaliação clínica. E, como todo procedimento diagnóstico de alta tecnologia, a operação dos equipamentos exige conhecimento e habilidade para o cumprimento de normas técnicas mínimas. Devido à possibilidade da termografia de avaliação multissistêmica do corpo inteiro, a termografia permite uma abrangência diagnóstica jamais alcançada por outros métodos, de forma totalmente inócua.
Atualmente, o método vem sendo mais aplicado na elucidação de dores crônicas resistentes ao tratamento ou cujo diagnóstico ainda não foi esclarecido, como
as que envolvem os quadros de síndrome fibromiálgica, distrofia simpática, neuropatias, dores miofasciais e as lesões repetitivas relacionadas ao trabalho e à atividade esportiva, explica Dr. Brioschi. Casos de pacientes com dores crônicas inespecíficas são frequentes na clínica médica. Na falta de uma ferramenta diagnóstica mas precisa, eles são tratados muitas vezes como portadores de transtornos psíquicos ou de anormalidades psicossomáticas. "O exame infravermelho é o único método diagnóstico por imagem que evidencia os pontos de gatilho da dor", diz o médico. Por isso é útil no diagnóstico nos casos como a síndrome dolorosa miofascial, responsável por insucessos terapêuticos em decorrência da falta de diagnóstico, que levam o paciente a ter sintomas dolorosos crônicos, baixa produtividade e má qualidade de vida.
Estudos demonstraram que o exame infravermelho tem sensibilidade alta quando comparado a outros exames, também na detecção de neuropatias. Muitas alterações da função fisiológica, por exemplo, que não são detectadas por exames radiológicos convencionais por não envolverem mudanças estruturais são diagnosticadas com as técnicas da termografia. Em um estudo realizado por Cho et al., com 1.458 casos de herniação discal lombar, a imagem infravermelha mostrou alta sensibilidade quando associada aos sintomas clínicos, de 89,5% comparativamente a outros estudos radiológicos. A imagem do nível anatômico da herniação discal foi comparada à da mielografia, da tomografia e da ressonância magnética e resultou similar em 79,1%, 78,8% e 76,6% dos casos, respectivamente. Estudos retrospectivos demonstraram a sensibilidade de 90% da imagem infravermelha, comparada com outras modalidades de exames de imagem, como a tomografia e a ressonância magnética. Porém, enfatiza o médico, a termografia demonstra as alterações fisiológicas da dor.
Variedade de aplicações
Tendo em vista a produção de calor decorrente de processos inflamatórios, a termografia tem se demonstrado eficiente, ainda, na avaliação de infecções, queimaduras, síndrome de Fournier, úlcera de decúbito, pé diabético, entre outras doenças inflamatórias. O método também é interessante na prevenção dessas doenças, como constataram os pesquisadores que analisaram 91 pacientes geriátricos sem lesão sacral para avaliar o risco de desenvolvimento de úlcera. Eles concluíram que o infravermelho pode ser um indicador mais preciso para avaliar o risco de desenvolvimento da úlcera de decúbito e diminuir em até 50% o seu desenvolvimento, uma vez que o método detecta as lesões ainda ocultas. A utilização da imagem por infravermelho tem sido estudada em procedimentos cirúrgicos, na avaliação da microcirculação de órgãos e tecidos. Caso exista uma rede arterial em determinado órgão, seu padrão anatômico pode ser claramente analisado a partir da termografia e, assim, graus de isquemia, necrose ou mesmo a viabilidade de enxertos cutâneos podem ser investigados pelo método - como na revascularização do miocárdio e transplantes de rins e fígado.
A inflamação é um dos sinais mais importantes de distúrbio na reumatologia. Seja qual for a patogênese examinada e, em razão da dificuldade em se quantificar objetivamente a atividade inflamatória nas doenças reumatológicas, diferentes autores têm proposto associação da imagem infravermelha com a avaliação clínica subjetiva. O uso da termografia no diagnóstico desse grupo de doenças da artrite reumatoide vem tendo resultados satisfatórios. Na área previdenciária, a termometria cutânea por termografia infravermelha é um método relativamente novo que vem sendo usado em perícia médica para avaliação neuromusculoesquelética de pacientes com dores crônicas, tais como LER/DORT. Ela é um auxiliar precioso para a identificação etiológica e o seguimento das lesões, especialmente nessas doenças dos tecidos moles para os quais o método está mais indicado.
Fontes
Brioschi ML, Cherem AJ, Ruiz RC, Sardá Jr JJ, Silva FMRM. O uso da termografia infravermelha na avaliação do retorno ao trabalho em programa de reabilitação ampliado (PRA). Acta Fisiatr. 2009;16(2):87-92.
Brioschi ML, Yeng LY, Pastor EMH, Teixeira MJ. Utilização da imagem infravermelha em reumatologia. Rev Bras Reumatol. 2007;47(1):42-51. Brioschi ML, Yeng LY, Teixeira MJ. Diagnóstico avançado em dor por imagem infravermelha e outras aplicações. Prática Hospitalar. 2007;4(50):93-8. Disponível em: http://www.praticahospitalar.com.br/ pratica%2050/pdfs/mat%2013-50.pdf
Cho YE, Kim YS, Zhang HY. Clinical efficacy of digital infrared thermographic imaging in multiple lumbar disc herniations. J Korean Neurosurg Soc. 1998;27:237-45.
Williams KL, Williams FJ, Handley RS. Infra-red thermometry in the diagnosis of breast disease. Lancet. 1961;2(7217):1378-81.
Foi formada por pacientes e profissionais voluntários que, trazem informações e orientações de credibilidade a quem queira conhecer mais e melhor a Fibromialgia - CID 11 - MG30.01 Começamos em 2007 no antigo Orkut, encerradas as atividades em março/2023. IMPORTANTE: NOSSAS MATÉRIAS NÃO SUBSTITUEM, SOB QUALQUER PRETEXTO, A CONSULTA MÉDICA.
Seja Bem Vindo ao Universo do Fibromiálgico
A Abrafibro - Assoc Bras dos Fibromiálgicos traz para você, seus familiares, amigos, simpatizantes e estudantes uma vasta lista de assuntos, todos voltados à Fibromialgia e aos Fibromiálgicos.
A educação sobre a Fibromialgia é parte integrante do tratamento multidisciplinar e interdisciplinar ao paciente. Mas deve se estender aos familiares e amigos.
A educação sobre a Fibromialgia é parte integrante do tratamento multidisciplinar e interdisciplinar ao paciente. Mas deve se estender aos familiares e amigos.
Conhecendo e desmistificando a Fibromialgia, todos deixarão de lado preconceitos, conceitos errôneos, para darem lugar a ações mais assertivas em diversos aspectos, como:
tratamento, mudança de hábitos, a compreensão de seu próprio corpo. Isso permitirá o gerenciamento dos sintomas, para que não se tornem de difícil do controle.
A Fibromialgia é uma síndrome, é real e uma incógnita para a medicina.
Pelo complexo fato de ser uma síndrome, que engloba uma série de sintomas e outras doenças - comorbidades - dificulta e muito os estudos e o próprio avanço das pesquisas.
Porém, cientistas do mundo inteiro se dedicam ao seu estudo, para melhorar a qualidade de vida daqueles por ela atingidos.
Existem diversos níveis de comprometimento dentro da própria doença. Alguns pacientes são mais refratários que outros, ou seja, seu organismo não reage da mesma forma que a maioria aos tratamentos convencionais.
Sim, atualmente compreendem que a síndrome é "na cabeça", e não "da cabeça". Esta conclusão foi detalhada em exames de imagens, Ressonância Magnética Funcional, que é capaz de mostrar as zonas ativadas do cérebro do paciente fibromiálgico quando estimulado à dor. É muito maior o campo ativado, em comparação ao mesmo estímulo dado a um paciente que não é fibromiálgico. Seu campo é muito menor.
Assim, o estímulo dispara zonas muito maiores no cérebro, é capaz de gerar sensações ainda mais potencialmente dolorosas, entre outros sintomas (vide imagem no alto da página).
Por que isso acontece? Como isso acontece? Como definir a causa? Como interromper este efeito? Como lidar com estes estranhos sintomas? Por que na tenra infância ou adolescência isso pode acontecer? Por que a grande maioria dos fibromiálgicos são mulheres? Por que só uma minoria de homens desenvolvem a síndrome?
Estas e tantas outras questões ainda não possuem respostas. Os tratamentos atuais englobam antidepressivos, potentes analgésicos, fisioterapia, psicoterapia, psiquiatria, e essencialmente (exceto com proibição por ordem médica) a Atividade Física.
Esta é a parte que têm menor adesão pelos pacientes.
É dolorosa no início, é desconfortante, é preciso muito empenho, é preciso acreditar que a fase aguda da dor vai passar, trazendo alívio. Todo paciente precisa de orientação médica e/ou do profissional, que no caso é o Educador Físico. Eles poderão determinar tempo de atividade diária, o que melhor se adequa a sua condição, corrige erros comuns durante a atividade, e não deixar que o paciente force além de seu próprio limite... Tudo é comandado de forma progressiva. Mas é preciso empenho, determinação e adesão.
A Fibromialgia é uma síndrome, é real e uma incógnita para a medicina.
Pelo complexo fato de ser uma síndrome, que engloba uma série de sintomas e outras doenças - comorbidades - dificulta e muito os estudos e o próprio avanço das pesquisas.
Porém, cientistas do mundo inteiro se dedicam ao seu estudo, para melhorar a qualidade de vida daqueles por ela atingidos.
Existem diversos níveis de comprometimento dentro da própria doença. Alguns pacientes são mais refratários que outros, ou seja, seu organismo não reage da mesma forma que a maioria aos tratamentos convencionais.
Sim, atualmente compreendem que a síndrome é "na cabeça", e não "da cabeça". Esta conclusão foi detalhada em exames de imagens, Ressonância Magnética Funcional, que é capaz de mostrar as zonas ativadas do cérebro do paciente fibromiálgico quando estimulado à dor. É muito maior o campo ativado, em comparação ao mesmo estímulo dado a um paciente que não é fibromiálgico. Seu campo é muito menor.
Assim, o estímulo dispara zonas muito maiores no cérebro, é capaz de gerar sensações ainda mais potencialmente dolorosas, entre outros sintomas (vide imagem no alto da página).
Por que isso acontece? Como isso acontece? Como definir a causa? Como interromper este efeito? Como lidar com estes estranhos sintomas? Por que na tenra infância ou adolescência isso pode acontecer? Por que a grande maioria dos fibromiálgicos são mulheres? Por que só uma minoria de homens desenvolvem a síndrome?
Estas e tantas outras questões ainda não possuem respostas. Os tratamentos atuais englobam antidepressivos, potentes analgésicos, fisioterapia, psicoterapia, psiquiatria, e essencialmente (exceto com proibição por ordem médica) a Atividade Física.
Esta é a parte que têm menor adesão pelos pacientes.
É dolorosa no início, é desconfortante, é preciso muito empenho, é preciso acreditar que a fase aguda da dor vai passar, trazendo alívio. Todo paciente precisa de orientação médica e/ou do profissional, que no caso é o Educador Físico. Eles poderão determinar tempo de atividade diária, o que melhor se adequa a sua condição, corrige erros comuns durante a atividade, e não deixar que o paciente force além de seu próprio limite... Tudo é comandado de forma progressiva. Mas é preciso empenho, determinação e adesão.
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