Transtornos respiratórios do sono e fibromialgia
Suely Roizenblatt
Professora Doutora Afiliada da Disciplina de Medicina e Biologia do Sono da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP - São Paulo (SP) Brasil
A fibromialgia corresponde a uma condição dolorosa musculoesquelética crônica que se diagnostica por meio da presença de dor crônica e difusa, e pela presença de dor à compressão de pelo menos onze de dezoito pontos anatomicamente determinados. Nos distúrbios do sono, embora não constituam critério diagnóstico, são freqüentes, em especial, os eventos de fragmentação do sono, tais como o aumento do número de despertares breves, aumento de oscilações cíclicas alternantes do padrão do sono e intrusão de ondas alfa no sono não-REM. A presença de sono não restaurador constitui um importante aspecto dentre as manifestações da fibromialgia, o que torna necessária a investigação de desordens primárias do sono na avaliação dos pacientes acometidos.
A associação entre fibromialgia e transtornos respiratórios do sono foi inicialmente descrita em 1986, ao se constatar que três dentre onze pacientes com apnéia do sono preenchiam critérios para fibromialgia. Em sete dos pacientes a polissonografia revelou padrão de fragmentação do sono, semelhante ao padrão alfa-delta.(1) A partir desse estudo pode-se dividir as publicações entre as que estudam transtornos respiratórios do sono em pacientes com fibromialgia e as que estudam manifestações de fibromialgia em pacientes com apnéia do sono.
A presença de transtornos respiratórios do sono em pacientes com fibromialgia tem sido mais estudada. Dentre as publicações, destaca-se um estudo de 1993, em vinte pacientes com fibromialgia e dez voluntários hígidos. Os autores não observaram diferença em freqüência de elevação do índice de apnéia e hipopnéia maior que cinco eventos por hora de sono entre os grupos (20% dos casos em ambos), porém constataram que os pacientes com apnéia do sono apresentavam maior fragmentação do sono.(2) De acordo com outro estudo de 1993, sintomas de fibromialgia podem sugerir doença respiratória do sono em homens, mas não em mulheres. Os autores avaliaram por meio de polissonografia treze mulheres e treze homens com o diagnóstico de fibromialgia. Onze dos homens apresentaram elevação do índice de apnéia e hipopnéia, sendo que, dentre as mulheres, apenas duas a apresentaram; ambas eram obesas.(3) Alguns autores, em 1995, por sua vez, em um estudo randomizado em 24 mulheres com fibromialgia, 60 com outras doenças reumáticas e 91 controles hígidas, constataram que as voluntárias saudáveis apresentaram com maior freqüência normalidade do índice de apnéia e hipopnéia que os demais grupos.(4)
Ao avaliarem 30 pacientes em uma clínica para diagnóstico e tratamento de fadiga selecionados de forma seqüencial, alguns autores, em 1994, detectaram distúrbios primários do sono como apnéia do sono, movimento periódico de membros e narcolepsia em 30% dos casos.(5) A partir de um estudo de 1996, passou-se a relacionar as alterações musculares e os distúrbios do sono na fibromialgia com eventos de dessaturação da oxihemoglobina durante o sono. Os autores realizaram um estudo controlado e randomizado em 28 mulheres com fibromialgia e quinze controles pareados para idade e índice de massa corpórea. Embora o diagnóstico de síndrome da apnéia do sono não tenha sido freqüente, o grupo com fibromialgia apresentou, em média, maior quantidade de períodos com saturação da oxihemoglobina abaixo de 90%.(6) Sarzi-Puttini et al. 2002 sugeriram uma relação entre eventos de dessaturação da oxihemoglobina durante o sono e sonolência diurna em estudo seqüencial 30 pacientes com fibromialgia.(7) No entanto, Gold et al. 2004 não observaram eventos de apnéia-hipopnéia nem dessaturação da oxihemoglobina durante o sono na fibromialgia, e sim a presença de um padrão respiratório compatível com a síndrome de resistência das vias aéreas superiores. Em estudo controlado, os autores compararam o sono de 28 mulheres com fibromialgia e 11 com síndrome de resistência das vias aéreas superiores pareadas pela idade e índice de massa corpórea e não observaram diferenças dos parâmetros respiratórios do sono entre os grupos, ou seja, as pacientes com fibromialgia também apresentavam ronco noturno, despertares eletrencefalográficos breves, fragmentação do sono e aumento da resistência das vias aéreas ao fluxo aéreo inspiratório.(8)
Inversamente, as poucas publicações subseqüentes que avaliaram a presença de manifestações de fibromialgia em pacientes com apnéia do sono estão em contraposição com os achados iniciais,(1) ou seja, não constataram aumento de freqüência das manifestações de fibromialgia em pacientes com apnéia do sono, como é o caso dos dados obtidos em 1995, em um estudo em 29 pacientes com apnéia do sono, 21 indivíduos com sono precário e 31 controles hígidos.(9) Alguns autores, em 1996, por sua vez, em um estudo seqüencial em 108 pacientes oriundos de um centro de tratamento para distúrbios respiratórios do sono, verificaram que apenas 2,7% deles preenchiam os critérios diagnósticos para fibromialgia Os autores sugeriram uma associação entre manifestações dolorosas e atividade física reduzida.(10) Desta forma, o estudo de Germanowicz et al, apresenta destaque na literatura internacional, uma vez que evidenciar que em comparação com a população em geral, ocorre aumento na prevalência de fibromialgia numa amostra de e 50 pacientes com transtorno respiratório do sono com manifestação de sonolência diurna, ronco e apnéias confirmados por meio de polissonografia.(11)
REFERÊNCIAS
1. Molony RR, MacPeek DM, Schiffman PL, Frank M, Neubauer JÁ, Schwartzberg M, et al. Sleep, sleep apnea and the fibromyalgia syndrome. J Rheumatol. 1986;13(4):797-800.
2. Jennum P, Drewes AM, Andreasen A, Nielsen KD. Sleep and other symptoms in primary fibromyalgia and in healthy controls. J Rheumatol. 1993;20(10):1756-9.
3. May KP, West SG, Baker MR, Everett DW. Sleep apnea in male patients with the fibromyalgia syndrome. Am J Med. 1993;94(5):505-8.
4. Hyyppä MT, Kronholm E. Nocturnal motor activity in fibromyalgia patients with poor sleep quality. J Psychosom Res. 1995;39(1):85-91.
5. Manu P, Lane TJ, Matthews DA, Castriotta RJ, Watson RK, Abeles M. Alpha-delta sleep in patients with a chief complaint of chronic fatigue. South Med J. 1994;87(4):465-70.
6. Alvarez Lario B, Alonso Valdivielso JL, Alegre López J, Martel Soteres C, Viejo Bañuelos JL, et al. Fibromyalgia syndrome: overnight falls in arterial oxygen saturation. Am J Med. 1996;101(1):54-60.
7. Sarzi-Puttini P, Rizzi M, Andreoli A, Panni B, Pecis M, Colombo S, et al. Hypersomnolence in fibromyalgia syndrome. Clin Exp Rheumatol. 2002;20(1):69-72.
8. Gold AR, Dipalo F, Gold MS, Broderick F. Inspiratory airflow dynamics during sleep in women with fibromyalgia. Sleep. 2004;27(3):459-66.
9. Plantamura A, Steinbauer J, Eisinger J. [Sleep apnea and fibromyalgia: the absence of correlation does not indicate an exclusive central hypothesis]. Rev Med Interne. 1995;16(9):662-5. French.
10. Donald F, Esdaile JM, Kimoff JR, Fitzcharles MA. Musculoskeletal complaints and fibromyalgia in patients attending a respiratory sleep disorders clinic. J Rheumatol. 1996;23(9):1612-6. Comment in: J Rheumatol. 1997;24(8):1657-8.
11. Germanowicz D, Lumertz MS, Martinez D, Margarites AF. Coexistência de transtornos respiratórios do sono e síndrome fibromiálgica. J Bras Pneumol. 2006;32(4)333-8.
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A Dra. Suely nos presenteou com uma palestra maravilhosa para o Grupo de Apoio da Unifesp no mês passado (abril/2009) e para outros interessados. Abordou o tema com muita clareza e nos deu muitos esclarecimentos.
ResponderExcluirSofro de dores crônicas a anos, hoje tive diagnóstico de fibromealgia, preciso de ajuda para encontrar médicos que saibam tratar, e atendam pelo convênio sul américa, por favor alguém me indique um médico em são paulo capital ou grande abc. klsusy@hotmail.com
ResponderExcluirsofro dores cronicas anos hoje ja tenho o diagnostico tenho fibromealgia sofro muitas dores tem dias que acho que nao vou aquentar.....
ResponderExcluirEu sofro de dores por todo o corpo 8 eses descobrir que eu tenho fibromiagia sinto muita dores disanimo dor no meu pescoço e ombros muito forte dores no joelho e tornozelos e quadril,depois que falei no meu trabalho tudo mudou comigo as pessoas rir de mim.coloca apelidos,diz que a dor e psicilogica mas eu fiquei mita desanimada triste e sem forças mas nunca deixei de trabalhar nem um dia com dor ou sem dor,sou auxiliar de serviços gerais fico em pe o dia enteroas vezes choroescondida no banheiro com tanta dor.mesmo assim sempre ali.mas mesmo assim eles mi demitiram.diseram que nao era por isso .mas e que mi parece pelo o meu dizanimo agora estou mi sentindo muito mal.
ResponderExcluirTenho fibromialgia e para piorar tenho também bursite crônica no quadril, não tem remédios que façam as dores diminuir. O pior de tudo isso é que a gente passa a ser objeto de estudo, pois cada dia dói um lugar diferente...além da discriminação de sofremos no trabalho e sociedade, pois as pessoas acham que estamos fazendo corpo mole para trabalhar, mal sabem elas quantas vezes precisamos trabalhar com o corpo mole sim mas é de tanto medicamento para talvez amenizar a dor e isso tudo faz com que a dor que sentimos aumente ainda mais.
ResponderExcluirOlá amigos, tbm sou mais uma que sofre com esta síndrome a 15 anos. Não tem sido fácil, hoje mesmo estou em crise, chorando de dor mas estou aqui trabalhando. Cheguei num estágio de desespero, !A descrença das pessoas, nos faz sofrer mais ainda. Já ouvi comentários na empresa do tipo " a essa negona gorda e forte não tem nada, ta querendo é se encostar no INSS " Puxa é duro, mesmo os médicos são bem relapsos,mau olham na tua cara, te receitam um monte de calmante, que se vc tomar não sai da cama, mas em contra partida, não te afastam do emprego, para vc se tratar. Sofrer com dor, ter vida limitada é muito difícil....
ResponderExcluirAdriana Maia Magalhães da Silva
ola a todos tenho fibromialgia a anos ,de ir ao medico varias vezes por semana esperando que me dessem um remedio para tirar aquela dor, no pronto socorro tomava decadron com voltaren e colocava uma tipoia no braço esquerdo ,na santa casa da minha cidade colocava um protetor no pescoço que so fazia aumentar minha dor foi assim por anos quase enlouqueci por que ninguem entendi e horrivel nao ter força nem para aperta um tuo de pasta de dentes ficar tao sensivel ao toque ninguem merece.
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